Você sabe por que o Pica-pau tem penas coloridas na cabeça? Leia esta historinha e saberá.
Em tempos muito antigos, viveu o grande rei Salomão, filho de Davi, amigo da justiça e inimigo da crueldade. Durante o seu reinado, foram proibidas as guerras e as matanças, tanto de homens como de animais. Ele deu ordens para que seus súditos cumprissem as suas determinações e protegessem os animais. Por isso no seu reino havia paz e abundância.
Um dia, o rei estava sentado no trono, quando chegou à sua presença, um homem com uma serpente enrolada no pescoço, e que tentava estrangulá-lo. O homem gritou angustiado:
- Ó grande e justo soberano! Socorrei-me!
- Diga o que deseja senhor! ordenou Salomão. Diga-me o que posso fazer por você!
O senhor desconhecido respondeu:
- Vêde, ó meu rei! Escutai-me! Sempre seguindo vossos conselhos, eu, como todos os vossos súditos, vivia em paz e harmonia, sem derramar o sangue de ninguém, nem mesmo dos próprios animais. Mas ontem, à tarde, depois de ter trabalhado o dia inteiro, ao sair do estábulo onde havia tirado o leite das minhas vacas, ouvi uma serpente gemer, enquanto se arrastava entre as plantas do chão.
- Por que está gemendo? perguntei a ela. e Ela me respondeu:
- Estou quase morta de sede. Dá-me de beber um pouco desse leite que está levando para casa. Em recompensa, lhe mostrarei um tesouro escondido! Então dei-lhe de beber e a serpente me guiou a um lugar solitário, junto de uma pedra. Eu já ia levantar a pedra para ver se de fato havia um tesouro, quando essa serpente saltou e se enrolou no meu pescoço, tentando picar-me e estrangular-me, gritando:
- Ladrão! Vou matá-lo!
- Eu lhe respondi:
- O grande sábio rei Salomão será nosso juiz! Vamos até ele.
A serpente concordou e aqui estamos para ouvir vossa sentença, meu justo rei!
Então perguntou o rei á serpente:
- Que razão você tinha para agir dessa maneira?
- É que nas escrituras, respondeu ela, está escrito: "Morderás o homem no calcanhar". Não tenho, pois, o direito de tirar-lhe a vida?
- Primeiro, disse Salomão, desenrole-se do pescoço desse homem, porque todos os que pedem justiça são iguais perante o tribunal. Portanto, ninguém aqui pode encontrar-se em situação de inferioridade.
A serpente imediatamente obedeceu e soltou o pescoço de sua presa. Então, quando o rei viu a serpente rastejando, voltou-se para o homem e lhe disse:
- Nas escituras está escito: "Tu esmagarás sua cabeça." Então apressa- se usa esse seu direito, homem!...
E o homem, rápido com um raio, esmagou a cabeça da serpente.
Enquanto isso acontecia, havia um pica-pau perto do rei, pois ele amava muito os pássaros. Apenas aquela ave viu a serpente morta, voou para sua companheira e falou:
- Ai de nós, querida esposa! O rei Salomão permitiu, novamente que o homem se torne cruel. Esconde bem os ovos. Tenho medo...
Mas a esposa do pica-pau respondeu:
- Eu não tenho medo algum! Ao contrário, tenho tanta confiança no rei que vou colocar os ovos no meio da estrada, por onde ele vai passar em seu carro de ouro.
O marido suspírou:
- Ah! você não tem juízo, não sabe o que lhe espera! Salomão esmagará os ovos com os cascos dos cavalos e com as rodas do seu carro. Não teremos a alegria de ver nosos filhinhos gorjearem...
Sem dar ouvidos, a esposa foi colocar os ovos bem no meio da estrada.
O rei Salomão, amigo dos pássaros, era também amigos dos ventos e gostava da velocidade com que seus cavalos conduziam seu carro. Foi esses ventos, em uma suave brisa, que sopraram aos seus ouvidos as palavras do pai pica-pau amedrontado e também de sua esposa.
Quando saiu a passeio, ao chegar perto dos ovinhos da mãe pica-pau, que tanta fé depositava em sua bondade, fez o carro parar e seguiu a pé...
No dia seguinte , o grande rei estava sentado no trono da Justiça, quando percebeu um ruído de asas perto de sua cabeça.
Era o casal de pica-paus que vinha, em sinal de gratidão, fazer-lhe uma visita e trazer-lhe, no bico, os presentes que lhe destinaram: uma tâmara e uma palhinha.
Salomão sorriu e acariciou meigmente as cabecinhas dos dois pássaros. Então, sob suas mãos, nasceram na cabeça de cada um deles algumas delicadas penas, formando o topete que deste então os pica-paus passaram a ostentar com tanto orgulho.
Nicéas Romeo zanchett
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