O MÁGICO E OS RATOS
Conta-se que em tempos desconhecidos houve uma cidade que um dia foi completamente invadida por uma assustadora multidão de ratos.
Ratões, ratazanas e ratinhos espalharam-se por toda a parte, sem o menor medo das pessoas. Entravam pelas portas e janelas, subiam pelas escadas, iam às cozinhas, aninhavam-se nas camas e subiam nas mesas para comer.
Quanto mais eram atacados e mortos, parece que mais aumentava seu inconcebível número.
Que terrível praga! Que desespero e horror!
Certo dia, quando os habitantes já estavam desanimados e sem saber o que fazer, apresentou-se ao prefeito da cidade um curioso homenzinho, com uma flauta na mão.
- Senhor prefeito - disse ele - se prometer pagar-me um escudo, eu, com as músicas que sei tocar nesta flauta, deixarei a cidade inteiramente livre de tão incômoda e perigosa praga.
- Prometer, não prometo - respondeu o prefeito. Só pagarei a moeda de ouro se você realizar, de fato, o que diz.
Então o esquisito homenzinho posicionou-se no meio da praça central da cidade e pôs-se a tocar na flauta uma estranha melodia.
Tocava, dançava e cantava assim:
"Ratos, ratinhos ratões,
Deixem casas e porões.
Fora daqui, já e já!
Vamos comigo pra lá!
Sou mágico e lhes darei
Doces, queijos, que nem sei!
Vamos depressa, depressa,
Vamos comigo, ora essa!...
Ouvindo a música e a cantiga, os ratos, por toda parte, puseram as cabeças de fora, logo depois as patas da frente, o corpo, as patas traseiras, a cauda, já então saltando e correndo para junto do feiticeiro, a fim de segui-lo com muita satisfação!
Em poucos minutos, aglomerou-se e pôs-se em marcha um imenso exército dos daninhos e perigosos roedores, como se fosse um rio de ratos a correr em volumosa torrente para fora da cidade.
O astucioso mago dirigiu-se para o grande rio, que passava logo adiante, e foi pouco a pouco entrando na água, sem parar com sua música. Os milhares e milhares de ratos também iam fazendo o mesmo, mas eram arrastados pela correnteza, perecendo logo afogados.
Após ter livrado a cidade daquela invasão de asquerosos roedores tão prejudiciais, o feiticeiro foi à prefeitura para receber a paga combinada. Mas o prefeito não quiz dar-lhe o escudo prometido dizendo-lhe, também em nome do povo: - O que você fez foi pura feitiçaria! Pobres de nós se lhe fosse pago essa sua bruxaria! Saia da cidade imediatamente, se não quer ser preso. Vamos! Ponha-se daqui pra fora, bruxo!
O homenzinho, ofendido com as duras e injustas acusações, gritou enraivecido: - Ingrato prefeito! Ingratos moradores desta cidade. Todos hão de me pagar!
Passou-se algum tempo. Num belo dia de domingo, quando o povo estava ouvindo missa, apareceu outra vez o homenzinho da flauta e começou a tocar, dançar e cantar assim:
Meus garotos e garotas
Saiam já de suas casas
Como se tivessem asas!
Venham depressa comigo
- São preciosos os instantes! -
Não temam qualquer perigo.
Eu lhes prometo brinquedos,
Doces, frutas e folguedos,
Lá nas montanhas distantes...
Todas as crianças, das maiores às menores, foram aparecendo nas portas e janelas, saindo e saltando logo para as ruas e seguindo o mágico, com imensa alegria.
O feiticeiro contou quantas eram, bem contadinhas: trezentas e uma.
Levou-as, atraindo com a música e os promissores versos, por montes e vales, campos e florestas, até as montanhas distantes da cidade.
Lá, entraram toas, com o mago, numa enorme gruta, cuja abertura logo se fechou por encanto. Apenas o menorzinho dos garotos não teve tempo de entrar e voltou para a cidade, muito amedrontado, chorando sem parar.
É fácil imaginar o desespero dos pais, o arrependimento do prefeito e de todos por não terem sido leais com o mágico. Poderiam muito bem ter evitado tamanha desgraça se lhe tivessem pago o prometido escudo de ouro.
Grupos de homens começaram a percorrer os campos e montanhas à procura da misteriosa gruta, a fim de salvar as trezentas crianças.
Todas as buscas foram em vão. Não conseguiram descobrir o paradeiro de seus filhos.
Durante muito tempo o povo daquela cidade chorou a perda daquelas crianças, que eram todo o seu amor e toda a sua esperança.
Muitos anos se passaram. Um dia, quando os pais dos pequenos levados pelo bruxo já estavam de cabelos brancos, surgiu na cidade um grupo de trezentas pessoas. Eram aquelas crianças, agora crescidas, adultas. Porém, nada disseram sobre o lugar onde tinham vivido, nem a respeito das coisas vistas na gruta da montanha. Mas se mostraram, agora residindo na mesma cidade, muito prodentes, bondosos e sábios.
O povo ingrato aprendeu uma lição: todos devem agradecer o bem que recebam, por menor que pareça. As promessas sempre devem ser cumpridas e a ingratidão é um grande mal que sempre devemos evitar.
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Nicéas Romeo Zanchett
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